sexta-feira, 12 de junho de 2015

Resenha #4 A Normalista


A Normalista é um romance publicado em 1893, escrito por Adolfo Caminha e foi o segundo livro  do autor. A edição que encontrei é esta da foto, em brochura com capa dura, publicada pela editora Record em 1995.Considerado como uma obra naturalista, a história é desenvolvida em Fortaleza e traz uma descrição geral dos costumes sociais da época. Um bem interessante é o  chamado passeio público. Um local na cidade onde se ia, claro, passear e ver as demais pessoas e principalmente para ser visto. O livro traz no seu desenvolvimento questões de relação familiar, traição, adultério, libido e incesto. Demonstra seus personagens de forma crua, desprovidos de virtude moral.
A descrição dos locais é feita com uma riqueza de detalhes, fazendo um resgate histórico que me possibilitou uma completa imersão ao cenário colocado. Outro ponto que precisa ser destacado é a forma que o autor descreve os seus personagens, narrando suas trajetórias ao inseri-los no decorrer da história, permitindo que ao personagem entrar em cena, o conhecemos a fundo.
Temos na história a Maria do Carmo, que é criada pelos padrinhos em Fortaleza desde as morte de seus pais. Ela é estudante do Curso Normal que é como o ensino médio profissionalizante, voltado a formação de futuras professoras. No começo a vemos apaixonada por um estudante de direito conhecido como Zuca, filho de um coronel. 

" Era como uma gata borralheira, sem pai nem mãe, obrigada a suportar os desaforos de um padrinho muito grosseiro que até a proibia de casar."



Seu padrinho, João da Mata, é contra o envolvimento de Maria com o rapaz, unicamente pelos seus desejos de usar a jovem, o que acaba acontecendo. E acontece de uma maneira arquitetada por ele de forma que ela acaba cedendo diante de uma falsa promessa feita à menina. A partir daí temos a ruína de Maria do Carmo, grávida aos 15 anos em uma sociedade sórdida, interessada na vida alheia, que coloca a culpa unicamente na menina pelo acontecido, sempre com a frase: "ela se entregou". 
Apesar do triste destino de Maria até então. Com a perda dos pais na infância, e sem contato com o único irmão, neste momento a compaixão que tive com a personagem surgiu de uma forma bem maior. Principalmente pelo realismo em que o fato nos é apresentado. Principalmente pela ficção não ser tão ficção assim. Muitas meninas passam pelo mesmo que Maria. Não apenas a violência em si, mas também ficam em silêncio por não terem ajuda de pessoas que percebem que algo está acontecendo, mas fingem que está tudo normal. Considero um tanto assustador perceber que as pessoas não mudaram muito desde que este livro foi escrito. 
A Normalista é uma obra prima que traz um retrato bem construído do final do século XIX. E neste cenário vivem personagens que são tudo, menos pessoas perfeitas. E nessa mescla de pessoas, a história permite um apego que aumenta o interesse de continuar e ver até onde essa história vai nos levar. Com este tom de realidade visceral, a história permanece viva para ser apreciada plenamente nos dias de hoje. E qualquer semelhança com a realidade, não é mera coincidência.

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